Campinas é uma cidade com grandes e tradicionais instituições focadas em atender e amenizar as dificuldades da nossa gente.
A maioria delas nasceu do sonho e do trabalho valoroso de antepassados que se dedicaram a nobres causas. Muitas, ainda mantém vivas as diretrizes de seus fundadores, enquanto outras, nitidamente, escolheram outros caminhos para seguir suas trajetórias.
Raras são aquelas que mantêm sua sobrevida dentro das próprias famílias, preservando ao máximo seus valores e a missão estabelecida.
Fato é que não é fácil gerir e manter instituições ao longo dos anos. É preciso muito trabalho e dedicação; mais do que isso, é preciso altruísmo para colocar os interesses da comunidade acima dos próprios desejos e ambições.
E não há de se falar nelas sem lembrar do trabalho secular que vem sendo realizado pelo Instituto Penido Burnier e a família Souza Queiroz.
Com 101 anos de fundação comemorados, recentemente, a história teve início com Leôncio de Souza Queiroz que, junto a João Penido Burnier, foi responsável pela fundação do Hospital Penido Burnier, em 1920. Após se formar no Rio de Janeiro, em 1932, o médico foi um fiel colaborador do fundador por longos anos – inclusive durante a crise de 1929, quando muito médicos saíram do Instituto e foram buscar carreiras em outras cidades, principalmente a capital -, chegando, inclusive, a atuar como presidente da Instituição.
Um século se passou e, atualmente, quem dá continuidade à história com louvor é Leôncio de Souza Queiroz Neto, que é o atual diretor presidente do Instituto Penido Burnier, reeleito por três mandatos consecutivos (o mais recente teve início em março deste ano).
O médico vem trabalhando incessantemente com objetivo de manter a instituição e, consequentemente, melhorar a saúde ocular não só de seus pacientes, mas também de toda a sociedade. O filho, Thiago de Souza Queiroz, segue a tradição familiar e já faz parte do corpo clínico da instituição, desde 2012.
Leôncio de Souza Queiroz Neto foi apresentado cedo à oftalmologia. Lembra da convivência com o avô e de fazer muitas viagens com ele. O médico recorda que o avô sempre valorizou as repercussões sobre visão das doenças sistêmicas e infecciosas, o que lhe rendeu destaque em sua atuação médica. “A idealização da técnica cirúrgica do cisticerco sub-retiniano que ainda hoje leva seu nome, contribuiu com a solidificação do IPB no cenário nacional”, conta.
Seu pai, Leôncio de Souza Queiroz Filho, trabalhou no hospital por 48 anos (1959-2007), período em que se destacou pela habilidade em cirurgias oftálmicas e sólida atividade científica, área em que totalizou 22 trabalhos científicos em congressos sobre anatomia e patologia ocular.
Leôncio Neto ingressou na instituição em 1985. “Passei a integrar o corpo clínico do IPB logo após me formar em Medicina pela PUC Campinas. Tive muito apoio tanto de meu avô, como de meu pai na escolha profissional, mas não foi uma tarefa fácil, pois me ensinaram a buscar novos conhecimentos, valorizar a educação continuada e cultivar a humildade, já que a medicina tem limites”, recorda.
Apesar de ter sempre trabalhado no Instituto Penido Burnier, as viagens que realizou durante todos esses anos lhe deram a oportunidade de conviver com grandes mestres da oftalmologia. “Em Porto Rico, vivenciei com Dr. Vasquez o início da técnica da facoemulsificação na cirurgia de catarata e a evolução das lentes intraoculares. Em Barcelona, com professor Barraquer, pude aprender sobre a evolução dos transplantes de córnea. Na Universidade de Miami, com Thomas Roussel, tive o primeiro aprimoramento sobre as doenças oculares externas que continuamente passam por transformação terapêutica. O Bascom Palmer Eye Institute também muito me influenciou sobre Banco de Olhos”, exemplifica.
Além disso, a atuação como colaborador junto ao Hospital Israelita Albert Einstein, lhe traz a oportunidade de acesso às últimas tecnologias aplicadas à oftalmologia assim que são lançadas. Isso garantiu, por exemplo, atualização e treinamento de grande importância para introduzir em Campinas as cirurgias realizadas com o laser de femtosegundo que revolucionou nos últimos anos a cirurgia de miopia, hipermetropia e astigmatismo, além do transplante de córnea, implante de anel intracorneano e a cirurgia de catarata a laser.
“O acesso às últimas inovações me mostrou que de todas as tecnologias aplicadas à oftalmologia, a comunicação ainda é a mais importante, tendo em vista que a qualidade do atendimento oftalmológico tem uma estreita relação com o entendimento das necessidades de cada paciente. A oftalmologia é uma das especialidades médicas mais afinadas à célebre frase de Hipócrates, considerado o pai da medicina: ‘Curar algumas vezes, aliviar muitas vezes, consolar sempre”, avalia. Com isso, deixa claro que a maioria dos avanços tecnológicos que incorpora resultam, sem dúvida, em grande alívio para os pacientes e melhora da qualidade de vida, mas não proporcionam a cura.
Em 2004, Leôncio foi responsável pela criação e coordenação médica do programa social “Mais Visão”. Médicos do hospital e da Fundação Dr. João Penido Burnier ofereceram atendimento oftalmológico a 36 mil crianças das escolas públicas municipais. A iniciativa contou com a parceria de três indústrias líderes do setor óptico para que as crianças com vícios refrativos recebessem óculos gratuitos após as consultas.
“O Mais Visão foi pioneiro na mensuração da importância dos óculos no aprendizado, comportamento e desenvolvimento cognitivo, mediante uma pesquisa realizada com pais e professores um ano após o início do uso. A pesquisa mostrou que para os professores 50% dos estudantes tiveram melhora no rendimento escolar, a concentração de 57% aumentou e 38,2% ficaram menos agitados. Para os pais, 88% das crianças passaram a ter mais concentração e interesse pelo estudo, todos os que sentiam dor de cabeça pararam de se queixar e 91% começaram a realizar tarefas que antes não conseguiam”, contou o oftalmologista.
O resultado teve repercussão em todo o Brasil e incentivou o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação a desenvolver em parceria com o CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) o programa “Olhar Brasil” até nos mais remotos estados brasileiros. A iniciativa pioneira é de extrema valia, ainda mais quando consideramos que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde no Brasil, a falta de óculos é a principal causa de deficiência visual em todas as faixas etárias.
A preocupação do médico é constante e não se restringe à sua área de atuação. Em 2011 apresentou ao Ministério da Saúde a proposta dos “óculos social” que está engavetada até hoje. O objetivo da propositura é tornar viável a correção refrativa para todo brasileiro através de óculos subsidiados pelo governo federal.
Não é de hoje que a trajetória do médico é reconhecida por gigantes do mercado, como é o caso da OneSight, ONG da maior empresa de lentes do mundo, que firmou parceria com o Instituto Penido Burnier, em 2016, para doar 2511 consultas e óculos para pessoas triadas pelos centros de saúde municipais. Em 2017, o hospital foi novamente selecionado para uma ação similar da OneSight, em Campinas.
Nos anos de 2018 e 2019, um grupo de médicos do hospital participou de uma expedição da Varilux /Luxottica para atender 5 mil pessoas da população ribeirinha e indígena da Amazônia, expandindo desta forma o compromisso para os rincões do país.
Recentemente, Leôncio Neto foi convidado a integrar o Board Brasileiro da MiSight, cujo tratamento inovador para o controle da progressão da miopia em crianças de 8 a 12 anos já foi lançado em outros países com eficácia comprovada, e que acaba de chegar ao Brasil.
A oftalmologia é a especialidade médica que mais agregou tecnologias nos últimos anos. Por isso, embora a atualização profissional em congressos seja importante, a certificação em novas tecnologias é essencial. Neste sentido, Leôncio de Souza Queiroz Neto é o único oftalmologista em Campinas certificado na correção cirúrgica de alta miopia. “Naturalmente, minha busca por novos conhecimentos visa oferecer o melhor atendimento médico disponível aos pacientes que optam por meus serviços. Acredito que o primeiro compromisso de um médico é a saúde e bem-estar de seu próximo”, afirma o médico.
E não há dúvidas de que seu compromisso tem sido cumprido à risca ao longo dos anos. Os depoimentos de pacientes e pessoas atendidas pelo médico só aumentam. Entre as principais qualidades apontadas, cada vez mais raras no meio médico, destaca-se a atenção dedicada a cada paciente em suas necessidades específicas. O médico é extremamente profissional e competente, mas o que desperta respeito e admiração daqueles que convivem com ele é, sem dúvida, o trato pessoal que tem com as pessoas à sua volta e a preocupação com a solução de problemas que afetam a rotina de seus pacientes. Leôncio Neto, que é também bastante religioso, presta atendimento humanizado e respeitoso à vida humana.
Em 2020, a pandemia de coronavírus disparou o número de mortes e profissionais de saúde acometidos pela COVID-19, segundo pesquisa do Conselho Federal de Enfermagem. Para frear a contaminação, o médico lançou a Campanha Solidariedade e arriscou a própria vida para entregar nos covidários mais de 12 mil óculos de proteção aos profissionais da saúde.
É sabido que os dois grandes pilares para o desenvolvimento econômico e social de um país são a saúde e a educação. Na área da saúde, a oftalmologia tem papel de destaque, tendo em vista que a deficiência visual representa um alto custo para a sociedade, uma vez que a integração com o meio ambiente depende de 85% da nossa capacidade de enxergar.
O momento político-econômico em que o Brasil está passando traz consequências negativas em todos os setores da sociedade, e na medicina não é diferente. O acesso da população aos serviços médicos qualificados se torna cada vez mais escasso. E é nessa lacuna que o Instituto Penido Burnier vem firmando parcerias importantes para o acompanhamento oftalmológico daqueles que tanto necessitam.
Apesar das ações valiosas em prol da sociedade, Leôncio não esconde uma certa preocupação com o futuro da instituição da qual é o atual presidente. A pandemia teve reflexos em toda economia e a estimativa do Conselho Brasileiro da Oftalmologia é de que houve uma queda de 70% nos serviços oftalmológicos no país, em 2020, o que certamente deve refletir no Instituto Penido Burnier.
Além disso, o médico demonstra que sua preocupação não se restringe apenas às questões econômicas dos serviços médicos, de forma geral. É nítida sua apreensão com questões que envolvem a dignidade humana, principalmente daqueles menos favorecidos. “Hoje nos vemos esfacelados por ego, ambição, ganância e concorrência. Abrimos os olhos um para o outro mas esquecemos de enxergar os valores que nos trouxeram até aqui: nobreza, dignidade, justiça e, sobretudo, medicina”, pondera.
Ele reconhece que o hospital sobreviveu à velha república, ao colapso da Bolsa de Valores de Nova Iorque, caminhou o período da grande depressão, assistiu as mudanças políticas e sociais de toda ordem e foi testemunha do nascimento de ideologias radicais que prosseguem no seu inexorável objetivo de destruir a honorabilidade e liberdade da pessoa humana. Lembra, com carinho, que o secular Instituto Penido Burnier recebeu grandes dádivas na pessoa de profissionais operosos e idôneos, mas sofreu inúmeras perdas virtuosas na equipe. “Foram perdas irreparáveis na esfera técnica e, especialmente, na esfera moral”, lamenta.
Além disso, avalia que as mudanças de ordem econômica e social que têm incidido sobre a instituição com grande intensidade, travam uma batalha difícil, surda e desgastante para manter os princípios morais e éticos, bem como o respeito e reconhecimento do médico.
Tal preocupação fica claramente demonstrada quando o médico fala dos antepassados que construíram a história do IPB. “Trazemos valores, doutrinas e lições daqueles que lutaram buscando em sua essência a medicina, deixando de lado o ego e as desavenças, muitas vezes a ganância e os vícios, pessoas que cultivaram mais as virtudes, lutaram por ideologias hoje pouco valorizadas, até por quem provou destas seivas nos primórdios do seu nascimento. E isso tem muito valor”, desabafa. E afirma que o lema de trabalho até aqui sempre foi aliviar o doente, estudar e, por último, tirar proventos honestos.
A dispersão dos valores morais no mundo em que vivemos, é vista com grande temor pelo médico. “A nobreza é um sentimento sublime, que denota grandiosidade de valores. Não se consegue apenas com palavras, ou atitudes. Nobreza ocorre, sobretudo, com fatos. A maior parte das vezes é uma luta solitária contra a controvérsia do mundo, e é tão difícil manter a serenidade necessária…”, pondera.
O futuro da oftalmologia
Diante de um futuro onde máquinas automatizadas bastante precisas prometem eliminar a avaliação humana na prescrição dos óculos de grau, o médico reflete sobre como a presença de um bom médico ainda é imprescindível para bons diagnósticos e correta prescrição para que o paciente desfrute de qualidade de vida. “O sistema óptico é ativo, por isso, suas medidas variam de acordo com os ajustes do próprio olho, o que nos permite mudar automaticamente o foco para enxergarmos próximo e à distância. Esta dinâmica do sistema óptico faz com que a aferição de alterações na refração só possa ser feita com exatidão por um médico especializado e, portanto, apto a decidir qual o melhor método a ser empregado na avaliação ocular”, exemplifica.
Nesse sentido, diversos estudos indicam que é bastante comum ocorrer erros na aferição do grau dos óculos, por conta do “espasmo acomodativo”, que é uma falsa miopia. Isso pode levar ao diagnóstico de miopia inexistente ou hipermetropia, especialmente em crianças. Em consequência, o uso de óculos com grau errado poderá levar a graves consequências para os pacientes.
O médico dá outro exemplo da necessidade de assistência do bom especialista na avaliação de cada condição: “Quem tem glaucoma, diagnóstico difícil de ser realizado, não deve fazer o exame de refração por cicloplegia, por exemplo, por que o colírio pode desencadear uma crise de glaucoma agudo e provocar a perda irreparável da visão. O colírio também pode causar taquicardia e infarto agravando doenças pré-existentes no coração”, afirma.
Além disso, a prescrição de qualquer medicamento é de responsabilidade exclusiva da classe médica. Por estes e outros motivos, Leôncio acredita que entregar a saúde ocular da população de Campinas aos optometristas (recentemente, abriu-se uma discussão sobre a possibilidade de autorizar o optometrista a prescrever lentes de contato e óculos) pode transformar os problemas de visão em uma verdadeira epidemia.
Leôncio alerta que quanto mais tardio é o diagnóstico de problemas oculares, maiores são as chances de danos irreparáveis à visão. E, para se ter uma ideia da gravidade do assunto, a Organização Mundial da Saúde estima que 60% dos casos de cegueira poderiam ter sido evitados.
O médico acredita ainda que a entrada de ‘não médicos’ na cadeia da saúde pública de Campinas vai dificultar e onerar o acesso aos tratamentos de doenças oculares que estão naturalmente em expansão na cidade como o glaucoma, a catarata e as doenças na retina que são causados pelo envelhecimento natural da população.
Outra questão relevante da saúde ocular é o aumento mundial da miopia, que é a dificuldade de enxergar à distância. Uma metanálise de 147 estudos publicados em diversos países, mostra que, no Brasil, metade da população será míope em 2050. Pesquisas revelam que a única terapia capaz de barrar este processo na infância é a aplicação de um colírio diluído pelo médico pertencente à classe de medicamento utilizada na cicloplegia. Portanto, sem atendimento oftalmológico, a miopia entre crianças pode ter um crescimento maior que o previsto, já que este medicamento só pode ser prescrito por médicos. Lembrando que a miopia pode causar consequências como o baixo rendimento escolar nas crianças e, a longo prazo, prejuízos no desenvolvimento profissional daqueles que sofreram com doenças oculares não diagnosticados de maneira correta na infância.
Como se não bastasse, em uma consulta de rotina para prescrição de óculos, o oftalmologista pode diagnosticar, antes que apresentem os primeiros sintomas, doenças como a hipertensão arterial, diabetes, alterações reumáticas, tuberculose, toxoplasmose, lepra, AIDS, tumores intracranianos, dentre outras.
Nesse sentido, o artigo 196 da Constituição garante que “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.
Vale ainda ressaltar que, em Campinas, 18% das pessoas atendidas pelo SUS engavetam a receita por falta de condições financeiras para adquirir os óculos. Esta foi uma das constatações de um recente mutirão realizado pela Fundação Penido Burnier, em parceria com a Prefeitura Municipal e a ONG OneSight. A iniciativa atendeu 3.453 pessoas e distribuiu 3.072 óculos à população. “Entre os que mantinham a receita na gaveta, tivemos a grata satisfação de incluir neste mutirão um paciente de 44 anos com 5 graus de miopia que precisava dos óculos para conseguir uma recolocação profissional no dia seguinte”, lembra o médico.
“O problema é que o resultado do nosso trabalho não depende apenas de competência, tecnologia, tampouco pouco da busca permanente por atualização. Ainda esbarramos em uma questão econômica primária, a dificuldade para aquisição dos óculos”, desabafa o presidente do IPB.
E é exatamente por esse motivo que o médico defende a necessidade da Prefeitura Municipal adotar o denominado “óculos social” para distribuir à população de baixa renda a um preço acessível. Para isso, o Instituto Penido Burnier já iniciou negociações e, em breve, deve apresentar ao poder público municipal uma proposta efetiva para reduzir os problemas de visão não corrigidos em nossa cidade. “Da mesma forma que o poder público subsidia medicamentos, acreditamos que deva reservar parte da verba local destinada à saúde para subsidiar óculos e tornar a visão um bem acessível para todos”, pondera o médico.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a falta de óculos é a primeira causa de cegueira no Brasil. Sem dúvida, uma iniciativa que atenda a população carente, fornecendo óculos, pode contribuir com o avanço e promoção em prol da saúde ocular em Campinas e no Brasil.
A Fundação Dr. João Penido Burnier
Nem todo mundo sabe, mas o Instituto Penido Burnier mantém um braço social importante dentro da instituição. A Fundação Dr. João Penido Burnier atende cerca de 36 mil pacientes do SUS, por ano, além do atendimento de desvalidos de outros Estados da Federação (sem direito ao SUS), cuja média anual é de 300 atendimentos nos últimos anos. Os atendimentos compreendem consultas, cirurgias, exames, etc, inclusive graças à atuação de médicos voluntários.
Para se ter uma ideia, no ano passado, em meio à pandemia que assola o país, a Fundação realizou 36.430 procedimentos, entre eles cirurgias de catarata, retina, estrabismo, implantes, mapeamento, cirurgias à laser, glaucoma, entre outros.
A busca de colaboradores e parceiros para a Fundação proporciona diversidade em técnicas de ensinamentos muito grandes, o que sem dúvida perpetua a instituição, principalmente nos dias de hoje, já que as coisas evoluem muito rapidamente.
Aliás, é pela Fundação que se realizam as campanhas de doação de óculos, sempre que possível.
Criada em 1965, a Fundação oferece estágios e programa de especialização em oftalmologia, reconhecido pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia, o qual, em parceria com a Associação Médica Brasileira, fornece o título de especialista em Oftalmologia mediante aprovação na prova nacional ao final do terceiro ano do curso.
Vale salientar que há um rigoroso manual com normas e diretrizes que devem nortear as condutas daqueles que pertencem à Fundação Dr. João Penido Burnier.
Além disso, disponibilizam a revista “Arquivos do Instituto Penido Burnier”, com finalidade de difundir o conhecimento oftalmológico e incentivar a pesquisa.
Cabe ainda ressaltar, que a valiosa contribuição de médicos voluntários tem sido imprescindível para manter os atendimentos da Fundação. Médicos como Dr. Milton Baptista Toledo Filho, Dr. Hilton de Mello e Oliveira, Dr. Nilson de Mello e Oliveira, Dr. Ademar Jaime Carneiro, Dr. Alvaro Lupinacci, Dra. Elvira Barbosa de Abreu, Dr. Kleyotn Barrella (que é o atual presidente da Fundação), Dr. Leôncio de Souza Queiroz Neto (presidente do Instituto Penido Burnier), entre outros, que têm, ao longo dos anos, dedicado tempo e conhecimento em favor dos menos favorecidos.
Incontestável o valor do trabalho desenvolvido pela Fundação, cuja atuação de médicos voluntários tem papel ativo na transformação da sociedade.
As dificuldades do Instituto Penido Burnier
Há mais de uma década, o IPB vem passando por dificuldades no âmbito financeiro. A instituição vem perdendo em algumas técnicas e capacitação de atendimento, o que tem resultado na diminuição, ao longo dos anos, do volume de pacientes e receitas tanto do instituto quanto dos próprios sócios e/ou médicos parceiros.
Paralelamente a isso, a dívida tributária cresceu em volume gigantesco por conta de diversas variáveis legais e da incapacidade de gerar receitas compatíveis com as necessidades de caixa e gestão. O imóvel onde funciona o hospital, com grande área construída no centro da cidade, em área valorizada, também teve o valor do imposto predial (IPTU) elevado sobremaneira. Sem contar que o município de Campinas promoveu, nos últimos anos, alta absurda das alíquotas do ISSQN (2% saltou para 5%), o que fez com que as despesas com tributos mais que dobrassem, evidenciando, cada vez mais, o descompasso entre as receitas e as despesas do IPB.
A inércia administrativa de gestões anteriores ocasionou grandes problemas que o atual presidente, Leôncio Neto, vem procurando solucionar para gerir o Instituto como instituição de referência na oftalmologia brasileira, com mais de 100 anos de história.
Seu trabalho tem sido incansável para retirar a instituição da situação em que se encontrava, inclusive com a soma de novos diretores e médicos parceiros. Os desafios têm sido enormes, ainda mais se considerarmos as ações que pleiteiam indenizações, decorrentes do falecimento de sócios.
Até 2015, quando novos sócios administradores assumiram a condução do Instituto, dentre eles o Dr. Leôncio de Souza Queiroz Neto, atual presidente, a Instituição acumulava prejuízos e não mais desenvolvia as suas históricas ações de vanguarda na oftalmologia, defasando o instituto no que se refere a tecnologia e equipamentos, com subutilização de sua sede, inchaço administrativo de funcionários, discórdias societárias constantes e exposições que causaram grandes prejuízos à instituição.
Desde então, o atual presidente vem buscando o equilíbrio financeiro, com administração profissional e retomada técnico-científica, possibilitado um novo alento ao instituto, incentivados os médicos, sócios e parceiros, a investirem em novas tecnologias e equipamentos, colocados à disposição da Instituição para o atendimento da população, ao menos enquanto o próprio Instituto encontra dificuldades de caixa para a compra direta de equipamentos novos e capazes de substituir o imobilizado existente.
Não há dúvida que o trabalho não será fácil, com enormes desafios a serem vencidos. E é exatamente isso que torna especialmente valorosa a dedicação e o empenho da atual administração, principalmente na pessoa de seu atual presidente, no tocante à sobrevivência e reinvenção da Instituição. Tudo isso, é claro, buscando manter, a todo custo, os valores morais e éticos de quem deu início à toda essa história.
O médico administrador e o futuro do Penido Burnier
Uma instituição médica com mais de 100 anos de história, com regramento estatutário calcado em princípios que não mais se ajustam às necessidades de evolução do corpo clínico e social mediante a introdução de novos membros está reduzida, hoje, a 15 sócios, sucessores dos primitivos fundadores do Instituto Penido Burnier.
Essa limitação de ingresso de novos sócios, bem como a necessidade de indenizar as quotas sociais dos falecidos aos seus herdeiros tem provocado, ao logo dos anos, certo distanciamento do antigo Instituto, que sempre foi referência nacional e internacional de modernização, em sentido mais amplo. Até 2014, o Instituto Penido Burnier viveu atrelado a dogmas administrativos do passado, não mais compatíveis com o tempo em que vivemos, necessitando, por isso, buscar novos caminhos.
Justamente em razão dessa necessidade de mudança de rumos, em busca de crescimento e cumprimento de sua função social, a maioria dos sócios decidiu por elevar o Dr. Leôncio Neto ao cargo de diretor-presidente, para que a modernidade administrativa fosse implantada, sem, no entanto, perder o “Penido Burnier” a sua preocupação maior com a saúde da população, missão da qual não pode se afastar.
Leôncio Neto não só aceitou esse desafio e voto de confiança de seus pares como, desde então, vem se dedicando à abertura do Instituto para a recepção de novos médicos parceiros-colaboradores; a reforma e locação de espaços físicos antes ociosos; a correção do corpo de funcionários, reestruturação administrativa, econômica, financeira e fiscal, com a regularização de pendências tributárias e trabalhistas, visando, a um só tempo, a redução de custos e o aumento de receitas, de modo a possibilitar a retomada de investimentos.
Além disso, o presidente faz questão de deixar claro que dificilmente um centro médico de especialidade terá capacidade para ter todos os equipamentos de última geração, tornando, nos dias de hoje, imprescindível a necessidade de fazer parcerias. Sem contar que existem técnicas muito específicas que, por mais que se treine novos médicos, não são cirurgias que se fazem todos os dias. Daí a importância de se buscar colaboradores com especialidades, porque o intuito do médico deve ser sempre buscar o melhor para o paciente.
A reeleição da diretoria que findou o mandato 2020/2021, integralmente, na última assembleia geral ordinária, ocorrida em março, é a prova concreta de que o Dr. Leôncio Neto, honrando a história de seus antepassados, vem dirigindo o Instituto Penido Burnier de forma moderna, sem receio de trazer ao convívio médicos novos, brilhantes profissionais, promovendo o intercâmbio de conhecimentos.
Segundo a diretoria atual, formada pelos médicos, presidente Dr. Leôncio Queiroz Neto, executivo Dr. Hilton de Mello e Oliveira, secretário Dr. Francisco Jose Queiroz Abreu e tesoureiro Dr. Alberto Gallo Neto, a vedação de ingresso de novos sócios no Instituto Penido Burnier, matéria que necessita revisão estatutária, não significa condenar o “Penido” ao isolamento científico, e muito menos impedir o desenvolvimento de novas técnicas, com a recepção, no corpo clínico, de novos médicos-parceiros. Igualmente, a utilização de novas técnicas, de novos e mais modernos equipamentos, não pode limitar a atividade médica em prol da saúde e bem-estar dos pacientes, com a diminuição de riscos, afirma Leôncio Neto.
Com esse olhar dirigido para a modernidade, da administração do Instituto Penido Burnier voltada para o aprimoramento científico e atendimento da população, lições que aprendeu desde cedo com seu avô e com seu pai, Leôncio Neto, apesar das resistências de “alguns poucos sócios” avessos à modernização e perda de privilégios, afirma que os próximos anos, com o equilíbrio econômico-financeiro da Instituição, serão voltados para a busca e introdução de novas tecnologias, aquisição de novos equipamentos, ampliação de convênios e crescimento do corpo clínico, uma vez que a história do Instituto Penido Burnier se fez com prestígio à ciência dirigida ao bem-estar das pessoas.
Leôncio Neto, nesse ponto, faz questão de destacar a importância do “braço social” do Penido Burnier, bem como eleva sincera homenagem aos médicos colaboradores, sem os quais o atendimento ao SUS e à população carente não seria possível, bem assim agradecendo, sensibilizado, ao apoio que tem recebido da maioria esmagadora dos sócios, todos parceiros nessa jornada de respeito e culto ao Penido Burnier, patrimônio e orgulho do povo de Campinas.
* Recentemente, visitamos o Instituto Penido Burnier – que acaba de comemorar 100+1 – a fim de conhecer mais sobre a história que contamos aqui, oportunidade em que foram feitos alguns registros que ilustram a matéria. Há de se registrar que, apesar do tempo e das circunstâncias, o Instituto se mantém organizado e muito bem cuidado, guardando, inclusive, inúmeras características que prezam pela sua história. Sem dúvida, um patrimônio da nossa cidade que devemos nos orgulhar.