Retinoblastoma: falta de exames na primeira infância pode levar à cegueira

O retinoblastoma é um tipo de câncer ocular, nem sempre detectado no primeiro “teste do olhinho”.

Por isso, a campanha “De Olho nos Olhinhos”, realizada todo mês de setembro, tem como objetivo conscientizar sobre a importância do diagnóstico precoce do retinoblastoma.

Este ano, a campanha chega a todos os estados do Brasil, contando com o apoio de importantes entidades médicas, incluindo o Instituto Penido Burnier, que trará a iniciativa para Campinas neste sábado, dia 21 de setembro, no Parque Dom Pedro Shopping.

Segundo o oftalmologista Leôncio Queiros Neto, diretor executivo do Instituto Penido Burnier, um estudo do INCA (Instituto Nacional do Câncer) publicado no International Journal of Cancer revela que a incidência de retinoblastoma no Brasil é o dobro da registrada nos Estados Unidos e Europa. Enquanto algumas cidades brasileiras apresentam entre 21,5 e 27 casos por milhão, nos EUA e Europa essa taxa varia entre 10 e 12 casos por milhão.

Para Queiros Neto, essa diferença ocorre porque muitas crianças no Brasil não realizam exames oftalmológicos nos primeiros anos de vida.

Diagnóstico e acompanhamento

O retinoblastoma é uma doença congênita que pode ser detectada logo após o nascimento através do “teste do olhinho”, obrigatório no Brasil. O exame, feito com um oftalmoscópio, detecta reflexos anormais na pupila que podem indicar retinoblastoma, catarata ou glaucoma congênito. Quanto antes essas condições forem diagnosticadas e tratadas, melhor o prognóstico.

Queiros Neto ressalta que, embora o “teste do olhinho” seja obrigatório em todo o país, muitos pais só levam seus filhos ao oftalmologista na idade escolar. O problema é que condições como retinoblastoma, catarata e glaucoma congênito podem evoluir durante os primeiros anos de vida. Por isso, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) recomenda a repetição do “teste do olhinho” três vezes por ano até os três anos de idade, além de uma consulta oftalmológica completa ao completar um ano.

Sinais e sintomas

O principal sintoma do retinoblastoma é a leucocoria, ou “olho de gato”, caracterizada por um reflexo branco na pupila que pode ser percebido em fotos com flash ou sob luz artificial. A condição geralmente afeta apenas um olho, e a dificuldade de enxergar pode causar estrabismo. Outros sintomas incluem perda de campo visual, conjuntivite recorrente e sensibilidade à luz.

Causas

Apenas 1 em cada 10 casos de retinoblastoma tem histórico familiar. A causa mais comum é uma mutação no gene RB1, que normalmente suprime o crescimento de tumores. Quando essa mutação ocorre, as células oculares se dividem descontroladamente, causando o câncer.

Metade dos bebês com retinoblastoma fica cega no Brasil

Queiros Neto alerta que muitos casos de retinoblastoma no Brasil não seguem o protocolo de exames recomendados. “Já operei crianças que fizeram o ‘teste do olhinho’ na maternidade, mas não tiveram acompanhamento posterior. Infelizmente, essa falta de cuidado leva à cegueira em cerca de 50% dos casos”, explica. Repetir o “teste do olhinho” e realizar uma consulta oftalmológica anual pode elevar a taxa de cura para 90%. O diagnóstico tardio pode resultar em cegueira e, em casos graves, até em metástase cerebral.

Tratamentos

O tratamento do retinoblastoma envolve uma equipe multidisciplinar e pode incluir técnicas como terapia focal (destruição térmica, congelamento ou laser), quimioterapia sistêmica, intravítrea ou intra-arterial, e, em casos avançados, a enucleação (remoção do globo ocular). A quimioterapia intra-arterial, que injeta o medicamento diretamente na artéria da retina, é uma das técnicas mais usadas atualmente, preservando a visão e a vida em 70% dos casos.

 

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