Devido à pandemia, estamos passando por um período de grandes mudanças em nossos hábitos rotineiros. E, apesar das vacinas, os números de casos das doenças seguem altos, criando grande incerteza quanto ao futuro. Esses fatores podem resultar em grande quantidade de estresse e ansiedade, gerando até mesmo um impacto importante em nossa saúde.
“Muitas pessoas, principalmente aquelas que já possuem algum tipo de predisposição, podem sofrer com crises de enxaqueca. Isso porque nosso comportamento, emoções e estado mental influenciam fortemente no aparecimento do problema, já que, durante essas situações de alteração do humor, ocorrem mudanças na liberação das substâncias que o cérebro utiliza para minimizar a dor”, explica o Dr. Paolo Rubez, cirurgião plástico, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e especialista em Cirurgia de Enxaqueca pela Case Western University.
Felizmente, é possível adotar alguns cuidados que vão ajudar a prevenir a recorrência dessas crises, principalmente no que diz respeito ao estilo de vida.
“Não podemos menosprezar o valor de uma boa alimentação, uma rotina de exercícios físicos, meditação e tratamentos psicológicos. Comprimidos não fazem milagres. Mesmo ir ao neurologista não resolverá tudo sem esforço por parte do paciente”, diz o neuro-oncologista Dr. Gabriel Novaes de Rezende Batistella, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA).
Um dos cuidados importantes nesse sentido é controlar o estresse, o que pode ser feito por meio da programação da rotina. “Tente manter a mente ocupada. Procure ter horário para acordar, comer, trabalhar e para dormir. Ao se levantar, procure trocar de roupa. Não fique na cama de pijama o dia todo. Crie objetivos e prazos para que você cumpra ao longo desse período. Mas, lembre-se de pausar por um momento. Ao final do dia, desconecte-se e realize algo que te dê prazer”, aconselha o médico.
A alimentação também é fundamental. De acordo com a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, professora e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), os fortes sintomas da enxaqueca podem ser evitados e amenizados com uma alimentação equilibrada, principalmente com a inclusão de castanha-do-pará, atum, canela, vegetais verde escuros e grão de bico na dieta.
“Alimentos ricos em selênio e magnésio são importantes para diminuir o estresse, enquanto anti-histamínicos (presentes na canela e gengibre) inibem a produção de prostaglandina, responsável pela sensação de dor”, afirma.
“É fundamental também evitar fast foods, frituras e alimentos gordurosos, que têm perfil mais inflamatório e liberam prostaglandina, assim como diminuir o consumo de cafeinados, substâncias que alteram a circulação sanguínea e de bebidas alcoólicas, que promovem a dilatação dos vasos”, explica a médica.
A prática regular de atividade física também é fundamental, pois libera substâncias que ajudam a controlar o estresse e promovem a sensação de bem-estar, muito importante nesse momento de grande ansiedade pelo qual estamos passando.
Porém, se mesmo com os cuidados acima as dores de cabeça não cessarem, vale a pena procurar um médico, que poderá realizar uma avaliação para diagnosticar corretamente o problema, pois a enxaqueca pode ser facilmente confundida com dores de cabeça passageiras.
“Dores de cabeça ocorrem, na maioria das vezes, por duas causas comuns: tensional, que são dores geralmente mais leves que surgem nos dois lados da cabeça e não causam náusea ou irritabilidade com luz e cheiros fortes; e enxaqueca, quando a dor começa e permanece apenas de um lado, mas atrapalha muito a rotina do paciente, podendo gerar náusea, irritabilidade com a luz, sons e cheiros e redução da produtividade de forma geral”, afirma o Dr. Gabriel.
“De fato, a chance de estarmos lidando com uma dor de cabeça momentânea é maior do que de estarmos lidando com uma dor de cabeça crônica. Então, para identificarmos se há necessidade de um acompanhamento neurológico para dor de cabeça, precisamos considerar o impacto da dor na rotina social do paciente e o motivo do surgimento das dores.
Por isso, à rigor, o ideal é que todos que possuem dor de cabeça procurem um neurologista ou clínico geral ao menos uma vez para receber orientação adequada”, recomenda o neurologista.
Uma vez que o quadro foi diagnosticado como enxaqueca, o médico poderá recomendar o melhor tratamento para cada caso. “A escolha do tratamento ideal para o paciente é difícil, exigindo que o médico e o paciente discutam profundamente todas as possibilidades.
Mas hoje temos diversas opções para controlar o problema com bons resultados, incluindo desde o uso de medicamentos orais até procedimentos que utilizam toxina botulínica e medicamentos monoclonais”, destaca.
Hoje já existe também a possibilidade da realização de uma cirurgia que, muitas vezes, é capaz de colocar um fim definitivo às fortes crises de enxaqueca. “A cirurgia de enxaqueca vem sendo realizada por diversos grupos de cirurgiões plásticos ao redor do mundo e em mais de uma dezena das principais universidades americanas, como Harvard.
Os resultados positivos e semelhantes das publicações dos diferentes grupos comprovam a eficácia e a reprodutibilidade do tratamento”, afirma o Dr. Paolo Rubez.
De acordo com o especialista, o procedimento é pouco invasivo e visa descomprimir e liberar os ramos periféricos dos nervos trigêmeo e occipital, que podem sofrer compressões das estruturas ao seu redor, como músculos e vasos sanguíneos, gerando a liberação de substâncias que desencadeiam a inflamação dos nervos e membranas ao redor do cérebro e, consequentemente, favorecem o aparecimento dos sintomas da enxaqueca, como dor intensa, náuseas, vômitos, sensibilidade à luz a ao som.
“Ao todo, são sete tipos de cirurgias de enxaqueca, pois para cada um dos tipos de dor existe um acesso diferente para tratar os ramos dos nervos, sendo todos nas áreas superficiais da face ou couro cabeludo, ou ainda na cavidade nasal.
Mas em todos estes tipos o princípio é o mesmo: descomprimir e liberar os ramos do nervo trigêmeo ou occipital, que são irritados pelas estruturas adjacentes ao longo de seu trajeto”, afirma o cirurgião.
A cirurgia para enxaqueca pode ser feita em qualquer paciente que tenha diagnóstico de Migranea (Enxaqueca) feito por um neurologista e que sofra com duas ou mais crises severas de dor por mês que não consigam ser controladas por medicações.
Além disso, pacientes que sofrem com efeitos colaterais das medicações para dor, que tenham intolerância a estas medicações ou ainda que têm sua vida pessoal e profissional comprometida devido às dores também podem passar pelo procedimento.
“As cirurgias são realizadas em ambiente hospitalar e sob anestesia geral ou, em alguns casos, sob anestesia local, durando cerca de uma a duas horas para cada nervo. E o melhor é que o paciente tem alta no mesmo dia, podendo voltar para casa”, finaliza o médico.