Infecciosa ou autoimune, a encefalite pode ser causada por vírus, bactérias, parasitas ou por inflamação do próprio organismo. Em sua forma mais comum, a doença está associada a ação viral, especialmente a da Herpes tipo 1 – cujo agente é o mesmo que provoca feridas na boca em situações de baixa imunidade.
“É importante ressaltar que quem tem herpes labial não tem um risco maior de desenvolver encefalite. O vírus da dengue, chikungunya, febre amarela, gripe, sarampo e até da Covid-19 também são possíveis causadores da inflamação no cérebro”, esclarece o neurologista Marcus Tulius, coordenador do Departamento Científico de Neuro-infecção da Academia Brasileira de Neurologia (ABN). Em algumas regiões do país, até insetos e carrapatos podem transmitir a doença.
Sintomas
Os mais suscetíveis são aqueles com sistema imunológico mais fraco, como crianças, idosos e pacientes imunodeprimidos. Uma vez infectado, os principais sintomas são dor de cabeça, alterações de consciência (indo da sonolência ao coma), crises convulsivas e alterações de comportamento (como agitação e até alucinações). As queixas, no entanto, variam de caso para caso.
Diagnóstico e tratamento
“A encefalite pode deixar sequelas permanentes e até matar. Por isso, é muito importante que o diagnóstico seja feito de forma rápida”, ressalta o médico. Nessa fase, o exame do liquor – isto é, a extração de parcela do líquido cefalorraquidiano pela coluna lombar – e a ressonância de crânio são as melhores alternativas para definir os próximos passos.
Segundo Marcus, o tratamento da doença varia de acordo com a causa. Inicialmente, o foco é o combate ao vírus herpético com antivirais, já que esse é o tipo mais comum. Depois do diagnóstico, outras alternativas são utilizadas, como corticoides, por exemplo.
“Encefalite tem cura, se percebida e tratada rapidamente. E uma vez curada, não há recorrência do quadro”, explica o especialista.
Nos piores cenários, a doença pode deixar sequelas de ordem cognitiva, como problemas de neurônio e alterações da fala; e de ordem motora, como paralisia e hemiplegia. Nesses casos, o tratamento é feito em cima das próprias sequelas.
Prevenção
Para não correr risco, o melhor a fazer é evitar a proliferação dos mosquitos transmissores de vírus. Os cuidados são os mesmos necessários contra a dengue: eliminar água armazenada em vasos, galões de água, pneus e até recipientes pequenos; usar repelentes e inseticidas; e proteger-se com mosquiteiros. No caso de carrapatos, o ideal é procurá-los na pele para retirada imediata.
Encefalite e Covid-19
“Já se sabe que o Sars-Cov-2 pode causar encefalite. Inclusive, há descrições de recuperação do material genético do vírus no liquor, isto é, detecção de PCR positivo no próprio líquido cefalorraquidiano. Isso mostra a relação de causa e efeito entre as duas enfermidades”, conta o médico. Ele ressalta, porém, que do ponto de vista clínico, não há diferença entre a doença associada à Covid-19 e aquela relacionada a outros tipos de vírus.
A encefalite pode ainda se apresentar como uma condição rara após a vacinação. O neurologista explica que o estímulo imunológico desencadeado reconhece estruturas do sistema nervoso como “estranhas” ao organismo através de uma reação inflamatória, o que configura a chamada “síndrome disseminada aguda pós-vacinal”.
“As manifestações são variadas, podendo incluir déficit de força, de sensibilidade e visual, crises convulsivas e alterações da consciência. O tratamento nesses casos é feito por pulsoterapia com corticóide em altas doses”, finaliza.