Recentemente, o Peru declarou estado de emergência nacional de saúde por 90 dias devido a um surto de casos de Síndrome de Guillain-Barré, responsável pela morte de quatro pessoas no país. Apesar da repercussão que o assunto ganhou mundialmente, muitas pessoas ainda não sabem exatamente do que se trata a doença.
“A Síndrome de Guillain-Barré, mais precisamente chamada de polineuropatia inflamatória desmielinizante aguda, é classificada como uma doença autoimune, em que o próprio sistema imunitário desencadeia inflamação em um ou mais tecidos ou órgãos de um indivíduo”, explica Dr. Roger Gomes, neurologista na AMA Especialidades (Assistência Médica Ambulatorial) Jardim São Luíz, gerenciada pelo CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo.
Geralmente, a Guillain-Barré é desencadeada por uma infecção prévia, podendo ser de cunho respiratório ou intestinal, que ocorre entre 2 e 6 semanas antes do seu diagnóstico. Assim, quadros como diarreia, pneumonia, hepatites A, B e C, HIV, vírus SARS-CoV-2 (variante da Covid-19) e vírus transmitidos pelo mosquito da dengue, como Zika e Chikungunya, podem ser considerados estímulos, embora a ciência ainda não tenha uma compreensão precisa sobre o fenômeno.
Nessa síndrome neurológica inflamatória autoimune, o sistema imunológico do indivíduo começa a atacar partes do sistema nervoso periférico, principalmente seu envoltório, conhecido como bainha de mielina, o que resulta em sintomas como fraqueza muscular, formigamento, dormência e redução ou ausência de reflexos.
“É importante ressaltar que qualquer músculo do corpo pode ser afetado, incluindo os músculos respiratórios, como o diafragma, o que pode levar à insuficiência respiratória em diferentes graus em até um terço dos pacientes. Além disso, a doença, geralmente, afeta os nervos periféricos responsáveis pelo controle da atividade cardíaca e da pressão arterial, podendo causar arritmias cardíacas e hipertensão arterial aguda”, complementa o médico.
Apesar de assustar à primeira vista, a doença é considerada rara e não contagiosa. No Brasil, a incidência é baixa, atingindo entre 1 e 4 pessoas a cada 100 mil habitantes anualmente. Os jovens e adultos entre 20 e 40 anos são os mais afetados.
O diagnóstico inicial é clínico e posteriormente confirmado por meio de exames que avaliam os nervos e músculos, como a eletroneuromiografia e a análise do líquido cefalorraquidiano, obtido por meio de uma punção na coluna lombar.
“O reconhecimento precoce da doença é fundamental para iniciar o tratamento o mais rápido possível, a fim de evitar fraqueza prolongada, comprometimento dos músculos respiratórios e, nos casos mais graves, insuficiência respiratória com necessidade de intubação e respirador mecânico”, reforça o neurologista.
Atualmente, as principais abordagens terapêuticas para tratar a síndrome são o uso de imunoglobulina humana intravenosa em altas doses. E se a sua utilização não resultar em uma melhora significativa, geralmente, recorre-se à troca do plasma do paciente por meio de um procedimento chamado plasmaferese. Em alguns casos, pode ser necessária uma combinação dos dois procedimentos. No país, ambos os tratamentos estão disponíveis gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
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