O bruxismo é uma condição clínica muito comum na atualidade. É o ato involuntário de apertar, deslizar ou bater os dentes, principalmente, durante o sono, podendo acontecer também durante o dia.
Um tipo de comportamento que pode afetar adultos e crianças e está relacionada com a ativação do modo de luta e fuga do corpo, quando em níveis elevados de estresse, preocupações e ansiedade.
Normalmente, ao ficarmos mais tensos, nosso corpo poderá reagir apresentando diversos sintomas que irão variar de acordo com cada pessoa. O bruxismo é um deles. Especialistas o descrevem como “um tipo de sussurro não falado do estresse” que carregamos.
A principal causa está relacionada a uma variedade de tensões e medos, desde preocupações diárias, pensamentos negativos, tristezas e depressão, se tornando assim, o verdadeiro eco dos desafios emocionais cotidianos.
A dinâmica do bruxismo esbarra na ansiedade e encontra aqui um de seus principais gatilhos, seja para o bruxismo diurno ou noturno. A associação se dá por conta da tensão psicológica, causada pela ansiedade acumulada durante o dia e liberada durante o sono, resultando no ranger dos dentes à noite.
É o que chamamos na saúde mental de “Interiorização dos Impulsos”, pois durante o dia, tendemos a suprimir emoções aparentemente impróprias, empurrando-as para as profundezas do inconsciente. Todavia, quando nos recolhemos ao sono, esses sentimentos negados vêm à tona, traduzindo-se no ato físico de apertar, deslizar ou ranger os dentes.
Além disso, o bruxismo também pode ser o grande causador de agravamento de um estado ansioso, visto que cria uma sensação de nervosismo e tensão acima do normal, causando um inconveniente físico.
Seguindo a premissa de que o corpo fala e manifesta tensões físicas à partir de nossas emoções internas, é correto afirmar que existem desejos instintivos, como raivas contidas, que geram impulsos reprovados causando uma batalha interna de sentimentos que, naturalmente, podem intensificar o ranger de dentes.
Por isso, é muito importante se autoconhecer, fazer terapia para compreender os gatilhos emocionais que potencializam o problema. Além de identificar, aceitar e articular os sentimentos sem culpa para reduzir a tensão e suavizar os efeitos do bruxismo.
O tratamento passa pelo convencional com o odontologista e também por uma terapia focada em identificar a raiz emocional responsável pela condição clínica.
A mudança de hábitos, a desaceleração, o gerenciamento das emoções são fundamentais para minimizar o bruxismo, que, quando não controlado, pode provocar desgastes dentários, dores faciais, e até disfunções na articulação, resultando até mesmo em irradiação para outras partes do corpo, como o pescoço, ombros e cabeça, levando a cefaleias e enxaquecas frequentes.
Enfim, o bruxismo é uma resposta do corpo ao estresse, a ansiedade e as preocupações acumuladas. Ele afeta tanto o sono, quanto a qualidade de vida de quem sofre com o problema.
Porém, para evitar sua ação e minimizar os impactos, é fundamental controlar os fatores que geram o desequilíbrio da mente, assim como investigar suas causas emocionais, para a melhora da saúde física e mental.
Dra. Andréa Ladislau é psicanalista.