Desde a primeira publicação científica sobre o uso cosmético da toxina botulínica, muita coisa mudou no mundo – e muitas pessoas foram beneficiadas pelo uso desse injetável.
Apesar de ser quase uma unanimidade antirrugas, a toxina botulínica também domina as plataformas de estudos científicos com ampliação de seus usos em vários campos da medicina. Dor, enxaqueca? A toxina trata. Depressão? Por incrível que pareça, também.
Convidamos médicos para explicar como um só mecanismo de ação, a paralisação da musculatura, é capaz de oferecer tantos benefícios:
Rugas
Primeiro, o básico e mais indicado: as rugas. “O melhor tratamento para as rugas dinâmicas, que são as rugas de expressão, continua sendo e provavelmente sempre será a toxina botulínica”, enfatiza a Dra. Paola Pomerantzeff, dermatologista membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
“A aplicação nos músculos das mímicas faciais faz com que esses músculos relaxem e não se contraiam. Com a interrupção dos movimentos da mímica, a pele para de criar vincos e as rugas dinâmicas desaparecem”, esclarece a médica.
A médica cirurgiã plástica Dra. Beatriz Lassance, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, conta que o uso contínuo da toxina botulínica ajuda na reeducação da musculatura da face.
“Com o tempo contraímos menos esses músculos. É indicada para diversas causas, como: suavizar as linhas da testa, o vinco entre as sobrancelhas, melhorar rugas nos cantos dos olhos (pés de galinha); levantar os cantos da boca; arquear as sobrancelhas; melhorar as rugas no pescoço e no colo; melhorar o sorriso gengival; arrebitar a ponta do nariz; melhorar as rugas do nariz chamadas bunny lines. Além dos músculos faciais pode ser usada para combater os excessos de suor em locais como axilas, mãos e pés”, diz a Dra. Beatriz.
Enxaqueca crônica
A toxina botulínica é um dos tratamentos para pacientes que têm enxaqueca crônica. Segundo estudo publicado na Plastic and Reconstructive Surgery, a revista médica oficial da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos (ASPS), um corpo crescente de evidências apoia a eficácia das injeções de toxina botulínica na redução da frequência das crises de enxaquecas crônicas.
O tratamento com a toxina botulínica foi autorizado pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) desde 2011 e já foi alvo de diferentes pesquisas científicas no Brasil e exterior comprovando a eficácia do método.
“Na técnica, é utilizada a toxina botulínica em aplicações que são realizadas em diferentes áreas da cabeça e da região cervical (pescoço). Ela age como um bloqueador neuromuscular, impedindo a contração muscular e, por consequência, a compressão dos nervos sensitivos periféricos”, afirma o cirurgião plástico Dr. Paolo Rubez, membro da Sociedade de Cirurgia de Enxaqueca dos EUA.
“Uma vez que uma das causas da enxaqueca é a compressão dos ramos dos nervos trigêmeo ou occipital, a toxina botulínica impede que isto aconteça”, acrescenta o especialista.
“Trata-se de mais uma alternativa medicamentosa e que deve ser aplicada a cada 3 meses em diversos pontos da cabeça e do pescoço. A resposta é muito individual. Existem pacientes que se beneficiam e outros que não têm boa resposta. Para esses casos, a cirurgia da enxaqueca pode ser melhor indicada”, destaca o médico.
Dermatite seborreica (caspa)
O uso da toxina botulínica do tipo A no couro cabeludo para tratar a caspa conta com respaldo científico inclusive com estudos recentes. A ideia é reduzir de forma eficaz e segura a secreção de sebo.
No tratamento do couro cabeludo, geralmente são necessários aproximadamente 25 pontos de aplicação, segundo a dermatologista Dra. Lilian Brasileiro, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, coordenadora e palestrante em eventos sobre tratamentos capilares.
“Embora o mecanismo de ação ainda não tenha sido completamente elucidado, há evidências de que a toxina botulínica promova uma diminuição da produção de sebo, o que acarreta na melhora da dermatite seborreica. Existem múltiplos mecanismos relatados e possivelmente envolvidos, sendo o principal deles o bloqueio na liberação de um neurotransmissor chamado acetilcolina entre os terminais nervosos e as glândulas sebáceas”, explica a Dra. Lilian Brasileiro.
“A frequência de aplicação da toxina botulínica depende, dentre outros fatores, da resposta individual de cada paciente. Mas sabemos que a produção de sebo vai progressivamente recuperando os níveis normais ao longo de aproximadamente 16 semanas. Assim, o intervalo entre as aplicações é geralmente de 4 a 6 meses”, acrescenta a Dra. Lilian.
Depressão
Segundo a Dra. Lilian, a toxina botulínica do tipo A atua na musculatura evitando contração e fraturas da pele. Mas essa aplicação clássica contra as rugas glabelares (entre as sobrancelhas) produz um efeito adicional: o tratamento da depressão, segundo trabalhos científicos.
Segundo o estudo Depression – An emerging indication for botulinum toxin treatment, é possível que a popularidade do tratamento das rugas glabelares com injeção de toxina botulínica não se deva apenas ao seu efeito cosmético, mas também aos efeitos modulatórios no humor e na afetividade.
“Tais efeitos podem ser usados no tratamento da depressão. Pacientes predominantemente do sexo feminino que sofrem de depressão unipolar parcialmente crônica e resistente ao tratamento experimentaram uma melhora rápida, forte e sustentada dos sintomas depressivos após um único tratamento glabelar com toxina botulínica A como terapia única ou adjuvante”, afirma os autores do estudo.
Condições neurológicas
Segundo a Dra. Beatriz Lassance, a grande utilização na Neurologia é a espasticidade, ou seja, com a toxina é possível o relaxamento da musculatura, melhorando a posição de membros em pacientes neurológicos com derrame ou paralisia cerebral.
Mercado mundial da toxina botulínica
Segundo relatório global da Mordor Intelligence, o mercado de toxina botulínica foi avaliado em mais de US$ 3,6 bilhões em 2020, e espera-se atingir mais de US$ 7,8 bi até 2026, registrando um CAGR (taxa de crescimento anual composto) de 9,94% durante o período de previsão.
Um relatório de 2019 da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética destaca que houve 6.271.488 procedimentos de toxina botulínica realizados globalmente, constituindo 46,1% do total de procedimentos não invasivos.
O principal procedimento não cirúrgico realizado entre as mulheres em 2019 foi a toxina botulínica, que representou mais de 5.429.754 procedimentos. Quase 841.735 homens foram submetidos a procedimentos com a toxina. “Devido à crescente demanda e desejo de aparência atraente, esses procedimentos são amplamente realizados por celebridades e seus fãs, devido à grande cobertura da mídia, tornando-o mais aceitável socialmente”, diz o relatório.
Por fim, a Dra. Beatriz lembra que o tratamento deve ser feito sempre por um médico.
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