Ar seco do frio piora o ceratocone

Junho é o mês de combate ao ceratocone e a principal recomendação para evitar a doença é evitar coçar ou esfregar os olhos.

Segundo o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, presidente do Instituto Penido, este hábito fragiliza as fibras de colágeno da lente externa do olho, a córnea, que afina e vai tomando o formato de um cone conforme a doença progride.  O problema é que um levantamento realizada por Queiroz Neto com 315 portadores de ceratocone mostra que 50% apresentam alergia nos olhos.  No frio, o ar seco aumenta esta incidência para 70%, contribuindo com o risco de progressão do ceratocone.

“Outros fatores que podem agravar neste período são a maior incidência da gripe, resfriado, sinusite, rinite e asma que provocam irritação nos olhos. A OMS (Organização Mundial da Saúde) alerta que os vírus respiratórios são um importante fator de risco da alergia nos olhos.

A dica do oftalmologista para alívio imediato de uma crise alérgica é aplicar compressas de água fria sobre os olhos. Caso a coceira não desapareça, ele orienta consultar um especialista. O tratamento é feito com colírio antialérgico ou com corticoide nos casos mais graves. Independente da fórmula, colírios só devem ser usados com prescrição e acompanhamento médico porque são medicamentos e o uso incorreto pode causar outras doenças nos olhos.

Sintomas e diagnóstico preventivo

A falta de acompanhamento médico faz com que, no Brasil, o ceratocone seja uma das principais causas do transplantes de córnea.  O problema é que ele pode ser confundido com astigmatismo. “Os sintomas similares fazem muitos pacientes chegarem ao consultório usando óculos para astigmatismo mas, na reavaliação oftalmológica, são diagnosticados com ceratocone, porque os sintomas são similares”, salienta.

Os principais sintomas do ceratocone são:

•      Troca frequente do grau dos óculos.

•      Visão de halos noturnos.

•      Fotofobia ou aversão à luz do sol

•      Maior fadiga visual nas atividades online

•      Coceira, vermelhidão e olho seco

O maior diferencial sintomático é a troca frequente de óculos no ceratocone. A boa notícia é que hoje é possível melhorar o prognóstico da doença através da tomografia que examina milhares de pontos das duas faces da córnea – externa e interna.

O oftalmologista conta que através deste exame já detectou casos de ceratocone em crianças. “É muito importante o  diagnóstico na infância porque a progressão é mais rápida em criança, pode limitar o tratamento e aumentar o risco de  transplante de córnea.

Correção

Queiroz Neto ressalta que, inicialmente, a correção da visão é feita com óculos. Já nas fases mais avançadas requer adaptação de lente de contato rígida que aplana a córnea e melhora a correção da visão. O problema  é que nem todos conseguem se adaptar às lentes rígidas. Para estas pessoas as lentes esclerais, que ficam apoiadas na esclera, parte branca do olho, são a melhor opção. Este tipo de lente permite maior estabilidade na superfície do olho, reduzindo a evaporação da lágrima e, portanto, o olho seco retém menos impurezas e tem boa adaptação até em córneas bastante irregulares.

Tratamentos

O oftalmologista ressalta que a única terapia capaz de interromper a progressão do ceratocone é o crosslink. A cirurgia é ambulatorial e feita com anestesia local. Associa vitamina B2 (riboflavina) com radiação ultravioleta para aumentar em até 3 vezes a reticulação das fibras de colágeno da córnea. O tratamento é indicado para ceratocone progressivo, só pode ser aplicado em córneas sem cicatrizes com, no mínimo, 400 micras de espessura e em pacientes que não sejam portadores de glaucoma.

“Além da lente escleral, outra  alternativa para livrar quem tem ceratocone avançado do transplante de córnea  é o anel intracorneano”, salienta. A cirurgia é realizada com o implante de dois arcos na córnea. O especialista explica que o dispositivo faz uma pressão que aplana a curvatura da córnea, melhorando a adaptação às lentes de contato. Na maioria dos casos a visão também melhora.

A dica do oftalmologista ao pais é observar se a criança tem hábito de coçar ou esfregar os olhos. “Prevenir é sempre melhor e a única forma de evitar a progressão de ceratocone é diagnosticando a doença logo no início para estabelecer o tratamento adequado”, conclui.