Diagnóstico precoce evita cegueira

A visão é uma importante questão de saúde pública e responde por 85% de nossa integração com o meio ambiente, por isso é um sentido essencial para nossa autonomia, desenvolvimento cognitivo e produtividade.

Ainda assim, a estimativa da OMS (Organização Mundial da Saúde) é de que 95 milhões de pessoas no mundo são cegas ou deficientes visuais.

De acordo com o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, presidente do Instituto Penido Burnier de Campinas, a estimativa do CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) do qual o especialista faz parte, é de que o Brasil tem 1,5 milhão de cegos e deficientes visuais graves.

Para alertar a população sobre os riscos das doenças oculares, especialmente a cegueira, todo ano a comunidade oftalmológica se organiza em torno da campanha “Abril Marrom”, levando informações à população para  preservar a saúde dos olhos.

O oftalmologista afirma que a boa notícia é que 75% da cegueira já instalada é tratável. “Este é o caso da catarata, maior causa de cegueira no mundo” saliente. A doença geralmente resulta do envelhecimento combinado com stress oxidativo que tornam opaca a lente interna de nosso olho, o cristalino. Mas estes não são os únicos fatores de risco.

Outros elencados por Queiroz Neto são:

  • Diabetes que dobra a chance de contrair catarata por favorecer a aglomeração de proteínas do cristalino.
  • Hábito de expor os olhos ao sol sem lentes que filtrem a radiação ultravioleta que aumenta em 60% a chance de desenvolver catarata.
  • Stress pelo aumento da produção de radicais livres.
  • Doenças autoimunes por serem tratadas com corticoides que criam depósitos na lente do olho.
  • Excesso de sal que dificulta a pressão osmótica entre as células do cristalino.
  • Fumar – pelo aumento do stress oxidativo.

O diagnóstico é feito durante um exame de rotina e o tratamento é sempre cirúrgico. O oftalmologista explica que o procedimento substitui o cristalino opaco pelo implante de uma lente intraocular flexível, que restaura por completo a visão, eliminando inclusive a presbiopia ou vista cansada que dificulta a leitura após os quarenta anos e os vícios de refração – miopia, hipermetropia e astigmatismo.

O risco do glaucoma

Queiroz Neto ressalta que outra enfermidade perigosa é o glaucoma. Ocorre quando há  dificuldade de escoamento do humor aquoso, líquido que preenche o globo ocular. Isso leva ao aumento da pressão intraocular que comprime o nervo óptico e causa a morte de suas células, levando à perda permanente do campo visual.

Por isso, quem tem glaucoma enxerga como se estivesse olhando o mundo através de um olho mágico. O problema, alerta, é que não existe tratamento que recupere as células do nervo óptico e mais da metade dos portadores só descobrem a doença em estágio avançado.

“Quem tem casos na família, é afrodescendente ou descendente de asiáticos, deve passar por exames anuais a partir dos quarenta anos, porque o glaucoma se concentra nestes grupos”, pontua.

O oftalmologista afirma que outros fatores de risco do glaucoma são hipotensão arterial que leva à perda mais rápida das fibras do nervo óptico, miopia, tabagismo, apneia do sono, café e diabetes.

Para interromper a perda da visão, são indicados colírios que mantém a pressão intraocular em nível normal, entre 10 e 21 mmHg, e devem ser ser usados continuamente.

Retinopatia diabética e degeneração macular

O médico ressalta que, após 10 anos do diagnóstico do diabetes, pode surgir retinopatia diabética que acomete 4 milhões de brasileiros. A doença provoca alterações nos vasos sanguíneos da retina que se tornam tortuosos.

Se não for tratada com injeções de antiangiogênicos, que são aplicadas diretamente no olho, pode culminar em atrofia do nervo óptico e cegueira irreversível. Importante ressaltar que nas fases inicias não apresenta nenhum tipo de sintoma.

Queiroz Neto explica que, conforme envelhecemos, a retina pode receber menos oxigênio e, para compensar essa deficiência, os vasos sanguíneos começam se reproduzir descontroladamente.

É a degeneração macular relacionada à idade que, geralmente, surge a partir dos 50 anos. É mais comum entre fumantes, pessoas de pele e olhos claros, quem têm casos na família, obesos ou que já sofreu algum acidente nos olhos. Os primeiros sinais são manchas escuras que sinalizam emergência médica.

Cuidados na infância

Engana-se quem pensa que, nos primeiros anos de vida uma criança, não é preciso ter cuidados com os olhos, se já passou pele teste do olhinho na maternidade.

Queiroz Neto afirma que os olhos se desenvolvem até a idade de 8 anos e, nos primeiros anos de vida, a criança pode desenvolver estrabismo e ambliopia, que deve receber pronto atendimento. Isso porque o estrabismo atrapalha a visão e a cirurgia só tem efeito na acuidade visual se for realizada na infância. Já a ambliopia é a anulação do olho de menor visão pelo cérebro.

Caso não receba tratamento com a oclusão do olho de melhor visão para estimular o outro, leva à cegueira do olho mais fraco. Queiroz Neto finaliza lembrando aos pais que, atualmente, as salas de aula são menores e por isso a professora pode não perceber que uma criança é míope.

Hoje, há vários tratamentos para miopia que interrompem a evolução do grau. “Cuidar da visão das crianças é essencial para que se tornem adultos plenos”, conclui.

 

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