Falta de óculos atrapalha aprendizado

No mês da criança, um alerta à saúde ocular dos pequenos: a falta de óculos atrapalha o aprendizado.

Segundo o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, do Instituto Penido Burnier, de Campinas, dados do Ministério da Saúde mostram que as 22,5 milhões consultas oftalmológicas realizadas no primeiro semestre deste ano superam em 17% os 19,2 milhões atendimentos realizados no primeiro semestre de 2019.

Uma pesquisa do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, do qual o médico faz parte, aponta mais de 2 milhões de consultas oftalmológicas realizadas para crianças e adolescentes de zero a 19 anos em 2019, o maior número registrado entre 2012 e 2021.

Isso significa que a prescrição anual de óculos para corrigir a miopia, hipermetropia e astigmatismo que predominam na população infanto-juvenil deve ultrapassar a realizada em mais de uma década. Ainda assim, falta muito para comemorarmos. Isso porque, a estimativa do CBO é de que pelo menos 20% das crianças e jovens precisam usar óculos. São 59,6 milhões brasileiros com até 19 anos. Para se ter uma ideia, seriam necessárias 11,92 milhões prescrições para que todos pudessem enxergar com clareza.

Para Queiroz Neto, a falta de óculos é um dos fatores que explicam o retrocesso de 20 anos no Educação apontados pela UNICEF (Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância)  diante da exclusão escolar de 5,2 milhões de crianças durante a pandemia.

Óculos melhora aprendizado, indica pesquisa

Para a Organização Mundial da Saúde, a dificuldade de enxergar é um dos mais relevantes fatores que dificultam o aprendizado. Segundo Queiroz Neto, isso ficou comprovado em uma pesquisa com pais e professores de 36 mil alunos das escolas públicas, após um ano de uso dos óculos que receberam no programa Mais Visão, realizado pelo braço social do hospital, a Fundação Dr. João Penido Burnier. A pesquisa mostrou que um simples par de óculos permitiu aos professores observar melhora no rendimento escolar de 50% dos estudantes, com aumento de 57% na concentração, sendo que 38,2% dos observados ficaram menos agitados.

Para os pais, 88% das crianças passaram a ter mais concentração e interesse pelo estudo, todos que sentiam dor de cabeça pararam de se queixar e 91% começaram realizar tarefas que antes não conseguiam.

Queiroz Neto que liderou grupos de trabalho para implantar os primeiros projetos “CATARATA” do país, trabalhou no SIGHT FIRST do Lions Club International, fez campanha de prevenção da ambliopia e de doação de córnea, além de ações com a ONG internacional OneSight, ressalta que nossa integração com o meio ambiente depende em 85% da visão e por isso a falta de óculos representa um dos maiores custos sociais para o país, especialmente quando atinge crianças.

Miopia cresceu na pandemia

Para  70% dos  297 especialistas que participaram de um levantamento do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, o isolamento na pandemia aumentou a miopia infantil. As causas apontadas foram o maior uso do celular e computador, somado à baixa exposição ao sol. Queiroz Neto explica que o sol estimula a produção de dopamina, hormônio que controla o crescimento do olho. Por isso, a recomendação é praticar pelo menos duas horas/dia de atividade externa. Já o uso abusivo das telas faz com que os músculos dos olhos fiquem acomodados a enxergar somente o que está próximo, conforme ficou demostrado em um estudo realizado pelo médico.

Como identificar problemas de visão

As dicas do médico para identificar quando uma criança está com dificuldade de enxergar são:

1.    Assistir TV muito próximo – Indica miopia, bem como aproximar qualquer outro objeto do rosto.
2.    Dor de cabeça frequente – Quando acontece após horas de esforço visual é sinal de erro refrativo decorrente de esforço visual.
3.    Acompanhar a leitura com um dedo – Pode indicar ambliopia ou olho preguiçoso que faz a criança anular o olho de pior visão e embaralha as linhas.
4.    Apertar os olhos para ler – Sinaliza falta de foco.
5.    Lacrimejamento excessivo – Pode estar relacionado à obstrução da canal lagrimal, ou uma disfunção da lágrima.
6.    Coçar os olhos frequentemente – Pode sinalizar predisposição ao ceratocone, conjuntivite ou alergia.
7.    Tampar um olho com a mão – Sinaliza ambliopia ou estrabismo.
8.    Alta sensibilidade à luz – Sinal de estrabismo ou astigmatismo.
9.   Dificuldade para ler – Estrabismo ou astigmatismo.
10.  Dificuldade para ler placas de sinalização – Miopia.