Uma pessoa que costuma consumir bebidas alcoólicas pode prejudicar tanto a saúde bucal, quanto a saúde do organismo em geral. Pode-se imaginar que um copo de cerveja não vá fazer mal, mas, se isso virar um hábito, pode sim causar sérios prejuízos aos dentes e se agravar para uma doença mais séria como o câncer de boca.
O consumo exagerado de álcool desidrata o organismo e também a boca. O fluxo salivar diminui e isso pode aumentar as chances de qualquer infecção ou problema oral. A cirurgiã-dentista Luciana Scaff Vianna, membro da Câmara Técnica de Periodontia do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo, alerta sobre os principais prejuízos causados pelo excesso de álcool: “Pode ocorrer erosão no esmalte do dente devido à acidez das bebidas; agravamento da doença periodontal; além de aumentar o risco para o câncer oral e de orofaringe”.
Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço mostram que o hábito de consumir bebidas alcoólicas e fumar em excesso aumentam em até 20 vezes o risco de desenvolvimento do câncer de boca e orofaringe. Na maioria das vezes, a doença não apresenta sintomas nos estágios iniciais. Porém, aos indivíduos que fumam e bebem constantemente, é importante observar sinais como manchas brancas ou vermelhas na mucosa da boca, aumento de volume na boca e na região da cabeça e do pescoço e feridas que se assemelham a aftas e não cicatrizam após 21 dias.
A profissional ressalta que os primeiros sintomas que surgem em um paciente que faz a ingestão excessiva de álcool são a boca seca, o mau hálito (halitose) e o acúmulo de placa bacteriana (biofilme) na superfície dos dentes. A higiene bucal, se feita de forma correta, pode ajudar a minimizar a gravidade desses sintomas. Se a ingestão de álcool também for reduzida, os resultados são ainda melhores.
Vale ressaltar que mesmo quem tem boas condições de higiene oral não está livre dos riscos da doença periodontal. Fatores genéticos podem influenciar na predisposição da formação do biofilme bacteriano. Além disso, tabagismo, alcoolismo e estresse contribuem para o aumento dos riscos.
A inflamação gengival inicial (gengivite) caracterizada por alteração de cor, textura e sangramento pode evoluir rapidamente para uma periodontite, onde já há destruição óssea podendo levar até a perda dental.
Vários fatores coadjuvantes agravam a situação da doença periodontal, tais como diabetes, doenças autoimunes, uso de medicamentos como bifosfonatos (para osteoporose e metástases ósseas) além de vícios como o fumo e álcool. A evolução da doença se dá de forma mais rápida e agressiva nessa situação.
A substituição dos dentes perdidos por próteses móveis, fixas ou implantes são fundamentais para reabilitação da função mastigatória e estética, porém não consiste em tratamento curativo para as alterações orais.
O primeiro passo para o tratamento é conscientizar o paciente e família dos riscos desse uso excessivo de álcool. “O cirurgião-dentista deve encorajá-los a manter os cuidados de controle e a manutenção com o cirurgião-dentista clínico ou periodontista se já houver presença da doença periodontal ou gengival”, explica Luciana. De acordo com a profissional, consultas trimestrais ajudam a controlar problemas mais sérios.
Recomendações essenciais
Luciana enumera algumas recomendações importantes para quem consome álcool:
– Higiene bucal correta, com uso de acessórios ou adjuvantes indicados pelo cirurgião-dentista;
– Alimentação adequada;
– Atividade física;
– Visita periódica ao periodontista.
O modo mais eficaz seria eliminar a presença de álcool no organismo, pois ele diminui a função de neutrófilos e macrófagos (células de defesa), deixando o organismo mais suscetível a infecções. Muitas vezes, os pacientes recorrem ao cirurgião-dentista sem falar a verdade sobre o seu vício. Para a periodontista é necessário ter uma boa aproximação para se obter sucesso no tratamento. “O relacionamento profissional/paciente inclui técnicas de abordagem, esclarecimento e encorajamento para que os pacientes sejam honestos com seus hábitos, isso pode fazer a diferença nos resultados esperados”, afirma.
Para a recuperação integral da saúde é importante ao menos a diminuição da frequência do uso do álcool e também do fumo, se for esse o caso. “A informação e esclarecimento sistemáticos podem ajudar muito esse paciente. O encaminhamento para profissional ou serviço especializado como psicólogos, psiquiatras, programas de combate ao vício é também função do cirurgião-dentista clínico ou especialista”, completa Luciana.