Sequelas emocionais da “Covid Prolongada”

Viver o medo, as dores e a insegurança após a testagem positiva do novo coronavírus não é nada fácil. A mistura de emoções e sintomas físicos, naturalmente, pode apontar manifestações emocionais desgastantes no paciente. No entanto, muitas pessoas estão enfrentando uma situação ainda mais inusitada: apesar de cumprirem o período de repouso e isolamento, receberem a administração medicamentosa adequada à intensidade de seu quadro clínico e seguirem as orientações médicas para a eficácia do tratamento, estão tendo que conviver com alguns sintomas persistentes. Ou seja, a recuperação não é 100%. É o que chamamos de “Covid Longa” ou “Covid Prolongada”.

Relatos cada vez mais frequentes apontam que além de um cansaço infinito, dores musculares, cefaleias, entre outros sintomas físicos, parte dos pacientes “recuperados” da Covid também podem desenvolver sequelas emocionais importantes que afetam a saúde mental e transformam o seu cotidiano.

Um ano após o surgimento do primeiro caso de infectado pelo Coronavírus, estudos demonstram que cerca de 80% dos pacientes em recuperação apresentam aspectos associados à Covid prolongada.  Visto que a conexão corpo e mente é muito perceptível, ocorre que, ao se ver de certa forma ainda preso por tanto tempo aos efeitos do vírus, a tendência é que sintomas como ansiedade, medo, irritabilidade, alterações de humor, alterações de apetite, fadiga emocional, desânimo e depressão despontem provocando ainda mais instabilidade neste indivíduo.

O que se observa de fato é que, na grande maioria dos casos de Covid Prolongada, as sequelas psicológicas estão ancoradas na angústia e no fato de que o paciente experimenta o medo e a insegurança por ainda estar vivendo o pesadelo da contaminação por um vírus invisível e altamente nocivo. Além disso, um outro fator contribuinte é o próprio período de isolamento que mexe com as estruturas emocionais do infectado.

Com o sistema psíquico em desequilíbrio, o indivíduo tende a potencializar as dores físicas, além de ativar gatilhos de ansiedade e pânico. Isso acontece porque vivemos movidos pela necessidade em ter o controle das situações nas mãos, um sentimento intrínseco de nossa espécie. Porém, tudo o que é externo e nos foge ao controle gera insegurança e medo e nos faz sentir vulneráveis. Além disso, a dor e o sofrimento favorecem a perda da capacidade de aceitação dos desafios – fato que, na mente do recuperado, pode contribuir ainda mais para provocar conflitos, uma vez que o que se espera após um tratamento adequado é a recuperação de 100% da saúde física e da estabilidade emocional do paciente. Mas a realidade não tem sido essa.

A vida pós-Covid é foco de estudos e acompanhamento específico de grupos multidisciplinares da saúde. Lembrando que não existe uma regra para a prevalência ou surgimento de sintomas, cada pessoa vai reagir de uma maneira, seja durante a recuperação ou após o período de tratamento. Podendo apresentar sintomas mais leves ou mais graves da doença.

É importante estar atento aos sintomas emocionais, mesmo após o período de recuperação, pois manter a saúde mental harmonizada contribui para aumentar e controlar os níveis de imunidade, reduzir os impactos físicos, além de promover a sensação de bem-estar que o indivíduo precisa para valorizar cada detalhe de seu cotidiano.

Enfim, as sequelas da “Covid Prolongada”, “Covid longa” ou “Síndrome pós Covid”, seja qual classificação for, refletem os impactos negativos na recuperação de muitas pessoas que sofrem por terem sido infectadas. E ainda existe um outro agravante: pacientes que já apresentavam quadros de transtornos mentais podem ter esses quadros psíquicos agravados. Além disso, o abalo psicológico tende a tornar esse indivíduo ainda mais vulnerável frente à necessidade da retomada de atividades cotidianas, limitando suas ações e potencializando respostas negativas ao aparelho inconsciente. Diante deste cenário, reforça-se o fato de que a saúde mental precisa e merece atenção. A busca de apoio e acompanhamento de um profissional especializado é fundamental, uma vez que os reflexos da contaminação comprometem a qualidade de vida do recuperado e deixa evidente que, não são apenas sintomas físicos que perduram após a recuperação.

Andréa Ladislau é psicanalista.