Piora dos hábitos alimentares

A pandemia e o isolamento social têm colocado em evidência um aumento de comportamentos inadequados para a saúde, principalmente com relação à piora da alimentação e aumento de sedentarismo, em todas as faixas etárias.

Um novo estudo da Universidade de Saskatchewan, no Canadá, publicado na revista Applied Physiology, Nutrition and Metabolism, mostrou que os estudantes universitários estão entre o principal grupo que tem piorado hábitos de vida. “Esse foi o primeiro trabalho a avaliar as mudanças na ingestão alimentar, atividade física e comportamento sedentário dos alunos antes e durante a pandemia e as descobertas revelam que os estudantes universitários, especialmente aqueles mais vulneráveis à má nutrição e comportamento sedentário, devem ser alvos de intervenções destinadas a manter e melhorar a atividade física e as práticas alimentares durante esta pandemia e depois”, afirma a médica nutróloga Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).

Além da piora no hábito alimentar, do aumento do sedentarismo, da diminuição da atividade física, os estudantes também relataram que estão consumindo mais bebidas alcoólicas. “Apesar do estudo ser fora do país, sabemos que os estudantes no Brasil também precisam de orientações para melhorar os hábitos alimentares na pandemia”, diz a médica.

O estudo de quatro meses envolveu 125 alunos de graduação e pós-graduação que eram mais vulneráveis por viverem de forma independente ou por viverem em repúblicas, com companheiros de quarto ou parceiros, e eram responsáveis por comprar e preparar suas próprias refeições. Os alunos responderam a um questionário online sobre o consumo de alimentos e bebidas, atividade física e comportamento sedentário antes e durante a pandemia. O estudo começou exatamente quando Saskatchewan estava impondo restrições à pandemia, portanto, os detalhes sobre o que os alunos comiam antes e durante a pandemia estavam frescos na mente dos alunos, segundo os autores do estudo.

O estudo descobriu que os alunos consumiram menos comida todos os dias durante a pandemia em comparação com o período anterior. Por exemplo, eles comeram 20% menos carne, 44% menos laticínios e 45% menos vegetais. Embora também tenham bebido consideravelmente menos bebidas, como café e chá, o consumo de álcool aumentou significativamente. “Esta inadequação alimentar combinada com longas horas de comportamento sedentário e diminuição da atividade física pode aumentar os riscos à saúde nesta população durante o confinamento e assim que a pandemia terminar”, explica a médica nutróloga.

Várias razões podem explicar a mudança na dieta. “O sofrimento psicológico tem sido associado à má qualidade da dieta, principalmente ao aumento do consumo de álcool”, diz Marcella. As medidas mais rigorosas implementadas no local do estudo também ajudam a entender, uma vez que para combater a propagação do Covid, houve a redução do horário de lojas e restaurantes, o que pode ter limitado a frequência de compras dos alunos e a disponibilidade de alimentos em casa.

Enquanto apenas 16% dos participantes estavam atendendo às diretrizes mundiais de 150 minutos de atividade física moderada a intensa por semana antes da pandemia, esse número diminuiu ainda mais para 9,6% durante a pandemia. Daqueles que atendiam às diretrizes de atividades canadenses antes da pandemia, 90% se tornaram menos ativos. Enquanto isso, o número de horas gastas em comportamento sedentário aumentou em três horas, para cerca de 11 horas por dia. Nesse sentido, há um risco perigoso de sofrer com a trombose. Segundo a cirurgiã vascular Aline Lamaita, membro American College of Lifestyle Medicine, permanecer muito tempo parado e sem movimentar as pernas faz com que a velocidade do sangue dentro dos vasos diminua. “Além disso, beber pouca água e alimentar-se mal são fatores que dificultam a circulação. Por isso, para evitar o quadro, é essencial, pelo menos, caminhar dentro de casa e fazer simples exercícios a fim de minimizar o risco do problema”, diz Aline.

Outro motivo para a redução da atividade física pode ser que muitos alunos não estavam mais caminhando para a escola depois que as universidades passaram para o ensino à distância, diz o relatório. “É fundamental que esses estudantes busquem orientação médica, diminuam o consumo de álcool e retomem as atividades físicas, que também é um meio para controlar a ansiedade e recuperar o bem-estar emocional”, finaliza Marcella

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