Nova lente para controlar miopia chega ao Brasil

A pandemia confinou as crianças em casa e, com a troca das aulas presenciais pelas on-line, disparou o número de casos de miopia, dificuldade de enxergar de longe, entre crianças. Um estudo chinês que comparou a miopia em 120 mil crianças antes e depois do isolamento mostra aumento de 400% entre crianças de 6 anos, 200% aos 7 anos e 40% aos 8 anos.

Apesar disso, a boa notícia é que a acaba de chegar ao Brasil uma nova lente de contato que diminui de 30% a 55% a progressão da miopia na infância. Esta é a principal conclusão de um estudo randomizado realizado durante três anos com 135 crianças de 8 a 12 anos.

A primeira criança no Brasil a fazer o tratamento é João Vitor, de 6 anos, paciente do oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, que faz parte de um seleto grupo de especialistas no país com certificação para adaptar a nova lente. O médico afirma que detectou 4,5 de miopia em João Vitor e decidiu pela adaptação da lente de contato com a mãe, por que a idade inicial da miopia está intimamente relacionada ao grau final em adultos e às graves doenças oculares relacionadas à progressão. Para conter o avanço do grau, será necessário usar a lente por três anos.

A pedagoga Dayane Santos, mãe do menino, conta que nunca percebeu a dificuldade de enxergar do filho. O mais comum é professores notarem quando uma criança não enxerga bem, comenta.  “No ano passado devido a pandemia as aulas foram on-line e o celular não exige boa visão de longe. Este ano, as aulas presenciais só começaram há poucas semanas. Acredito que, por isso, João Vitor não percebeu que estava com dificuldade para enxergar de longe” afirmou. A miopia do menino foi descoberta por acidente, literalmente.

“Recentemente, mudamos de casa e ele bateu o olho em um degrau da piscina, estourando uns vasinhos na parte branca o olho. Depois do acidente marquei uma consulta e quase caí para trás quando Dr. Queiroz Neto me disse que Vitor está com 4,5 de miopia”, contou.

A Coopervision, fabricante da lente, está disponibilizando o tratamento inicial e, segundo Daiane, está indo muito bem. Logo que colocou a lente, pela primeira vez, o menino identificou imagens distantes. “Estamos muito felizes com este tratamento. Ele está enxergando bem melhor e não sente a lente no olho”, comentou.

Como funciona a lente

Queiroz Neto afirma que no míope a córnea, lente externa do olho, é mais curva que o normal e o comprimento do olho é maior. Por isso, as imagens se formam na frente da retina, ao invés de se formarem sobre ela. Resultado: a visão à distância fica embaçada. A nova lente tem dois arcos concêntricos na periferia que diminuem o crescimento do olho e, com isso, o avanço da miopia. “Isso provoca uma miopia periférica que não altera o foco central, mas diminui o crescimento do olho. Este é o segredo do tratamento”, salienta.

Fatores de risco na pandemia

O oftalmologista foi o pioneiro no Brasil em estabelecer a correlação entre miopia infantil e o uso abusivo de telas digitais. Ele afirma que este é um dos fatores que explicam o aumento da miopia infantil no mundo todo. “João Vitor é uma prova viva disso”, pondera. A dica ao pais é ensinar a criança a distanciar os olhos da tela para pontos distantes, piscar mais vezes diante dos equipamentos e intercalar o uso dos eletrônicos com exercícios físicos.

O médico orienta que as atividades ao ar livre são essenciais na contenção da miopia. No Brasil, são poucos os alimentos enriquecidos com vitamina D e o sol responde por 70% da disponibilidade desta vitamina entre brasileiros.

A córnea, lente do olho responsável por 60% da refração, tem receptores de vitamina D que regulam 900 pares de genes associados à miopia. O nutriente também está relacionado à produção do hormônio do bem-estar, a dopamina, que controla o crescimento do comprimento do olho.

Benefícios do controle da miopia

Queiroz Neto destaca que, de acordo com um artigo científico recente, cada grau adicional de miopia aumenta o risco de maculopatia mióptica em 57%; do glaucoma em 20%; da catarata capsular posterior em 21% e do descolamento de retina em 30%. “O maior perigo do uso de lente de contato é a contaminação da córnea pela higienização incorreta e o uso além do prazo. Essas são as causas mais recorrentes”, avisa.
A nova lente tem descarte diário e, por isso, seus benefícios superam o risco.